segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Quase Nada...

"Me traz o teu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Susurre em meu ouvido
Só o que me interessa..."
(Lenine)



Os dias têm passado por mim como um dia chuvoso. Desses, recentes, que você já nem sabe mais se são as águas de março, a garoa fina de Sampa ou a massa polar que anuncia o inverno. No entanto, te encharcam.

Quando vê, é verão. Quando vê, é final do outono. Quando vê, não é mais aquela cidade. Quando vê, já é dia primeiro do outro mês. Quando vê, cadê você? Foi engolido.

E acho, mesmo, que esse tal devorador é o que nomeamos de caos. Caos do pensamento, caos da ampulheta, caos da urgência de tudo e todos. Vivemos o caos do instantâneo. A cura tem que ser rápida; a ferida, superficial; os desejos, fugazes.

Garanto que nesse caos ninguém suportará viver sem buscar algo ou alguém. É preciso que esta busca ecoe em nós um pedido sincero de quase nada...

Ilustrações: 10 pãezinhos (Gabriel Moon e Fábio Bá)

Ruído deste post: "É o que me interessa" - Lenine

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Figurino ou Figurante? Eis a questão.

Passei uma vida refletindo sobre a importância dos figurinos. O quanto a estética é instrumento de expressão da busca do quem sou eu. Não falo da estética que se reduz na superficialidade da maioria de nós. Buscava aquela que pudesse contar através de cada cor, costura, acessório o que se passava na mente (e no corpo) daquela tal personagem. Eu.

Achei. Achei o tom certo, a largura ideal, o detalhe relevante, a combinação genial que revelassem com espontaneidade o ser complexo por de trás de todos aqueles elementos. O outro passou a me reconhecer nas exibições mais cotidianas. E eu, figurante, passei a ter nome, jeito, voz. Passei a existir neste palco da vida.

Hoje, quando páro para pensar no tempo gasto com a reflexão do figurino, sofro. Acredito que deveria ter sido mais figurante. Poderia ter atuado mais, ter me atentado às sensações, ter ensaiado com mais dedicação o que é ser, apenas, o arbusto do espetáculo.

Fiquei lá fora. Quando devia ter ficado aqui dentro. Ou será o inverso: Fiquei aqui dentro. Quando deveria ter ficado lá fora?

Não sei. Sei que optei pelo figurino e me vejo agora buscando ser, apenas, figurante.