terça-feira, 28 de julho de 2009

Tosse Seca

Domingo. Domingo ela chegou. Não pediu licença. Não deu o menor sinal de que iria se instalar aqui, comigo. Simplesmente, se instalou. Tá certo, no primeiro dia ela veio delicada: oras manifestava-se, oras calava-se.

Segunda. Segunda ela resolveu dizer a que veio. E no espaço de pequenos intervalos de minutos, ela me arranhava. É, arranhava. Unhas secas, ásperas. Tentei disfarçar, joguei água para encobrir a aridez que ela deixou em mim. Forçou o meu olhar para a ferida que ela mesma me causou. Será? Nessas horas me sinto mal ao culpabilizá-la. Sei, bem, que a ferida já estava lá, ela só arranhou. Quase como um lembrete na tal página do calendário, no tal dia.

Terça. Ela ainda está aqui comigo. Uma amiga acaba de me dizer que ela deve permanecer instalada em mim, ainda, durante os próximos trinta dias. Nunca gostei de visitas. Nunca suportei que meu espaço fosse invadido, sem licença, sem anunciação. Ironicamente, ela pouco se importou com isso, e pelas entrelinhas ( o feitiço contra o feiticeiro), manda dizer que veio, mesmo, me salvar. Quer me ajudar a expressar tudo que há de secreto em mim. Disse, sem metáforas ou afins, que estou árida. Que ela é apenas tosse. Seca, sou eu.